quarta-feira

Lipodistrofia: tristeza pé no chão

Como o destino tem sido cruel comigo. E eu tenho sido cruel com minha mãe.Hoje num ápice de tristeza fui grosso com ela que chegou a falar: "Não tô te reconhecendo meu filho". Pedi desculpas e disse que estava passando por um problema pessoal. Ela é a coisa que mais amo na minha vida, e seria capaz de morrer por ela. Já cheguei a pensar qure gostaria que ela morresse antes de mim e sem saber sobre o HIV. Me sinto mal pensando na morte dela mas eu quero muito poupá-la dessa notícia. Gostaria também de poupar alguns amigos, mas eles me fortalecem e me ajudam bastante. Ontem, num momento que, inicialmente estava desesperado contei pra mais um amigo. A reação dele foi como a dos outros: tristeza e olhar de pena.
Meu maior medo está no meu espelho todos os dias. Ontem um amigo olhou pro meu rosto e com um ar de felicidade falou: “nossa, como você emagreceu!” Eu respondi: “não emagreci não, estou com o mesmo peso”.  Ele finalizou: “emagreceu sim, dá pra ver no seu rosto, ta mais fino!”
Esse diálogo tocou na minha maior ferida: Lipodistrofia. Me lembrei que um colega de trabalho havia falado a mesma coisa há uma semana atrás. Estou com muito medo. Não quero que minha aparência mude; não quero que as pessoas da rua me olhem com sentimentos de pena e medo. O pior que o destino parece me apontar isso cada vez mais. Escrevo agora dentro de um ônibus e sentado na minha frente tem um cara com lipodistrofia bem avançada. Coincidência? Espero que sim.
Deus não tem sido muito bom comigo. Tenho evitado de pensar nele pois nossa relação não está muito boa. As vezes sinto ódio dele. Me sinto culpado e arrependido por sentir e pensar isso. Tenho passado por muitos perrengues e tem sido cada dia mais difícil viver e levar minha vida normal, com meu trabalho e estudo.  Se Ele ainda tem alguma compaixão por mim eu suplico: não deixe a lipodistrofia vir. E se ela já veio faça ela parar por aí, pois como está não me incomoda.
Sempre “peguei” carinhas na balada, sempre chamei atenção. Não que eu seja lindo, mas sempre consegui e tive um certo poder de conquista. Me imagino com lipodistrofia e vejo a rejeição de todos. Pessoas que antes me beijariam, rindo ou mesmo se afastando de mim por medo ou pena.
 Não gosto de pensar nisso, mas a morte tem sido um pensamento constante. Estou cansado de sofrer em função do HIV. O que ainda me mantém e me manterá vivo é minha mãe. Ela já perdeu um filho e vi de perto seu sofrimento. Mesmo depois de muito tempo ela ainda não lida bem com a morte de meu irmão. Me desculpe pelo post, mas hoje eu queria muito ser um computador e ser completamente formatado. Estou condenado a viver com isso... "tristeza e pé no chão".

Clara marca esse momento e transmite em música o que sinto.










Um comentário:

Amigo disse...

Mais pé no chão que você eu ainda não encontrei. Tenho certeza que os seus medos não passarão de dúvidas infundadas.